Retiros e finanças do Fundo de Pensões: novas vias de extracção financeira

Resumo

Num contexto de crise salarial resultante dos efeitos da pandemia social e sanitária e devido à falta de apoio económico, foi implementada no Chile, em Julho de 2020, uma lei que permitiu a retirada antecipada de 10% dos fundos de pensões. Esta medida controversa permitiu que mais de 11 milhões de trabalhadores tivessem acesso a retiradas e, por sua vez, teve o efeito inesperado de reactivar a economia chilena. Este artigo propõe uma análise da primeira retirada dos fundos de pensão na medida em que esta medida injectou recursos económicos sem precedentes nas classes trabalhadoras que, devido aos baixos montantes das poupanças de pensão, não puderam beneficiar das outras retiradas. Para tal, o meu argumento é desenvolvido em três partes: primeiro, apresento brevemente as principais reformas implementadas no Chile durante a ditadura militar que permitiram o desenvolvimento de uma infra-estrutura financeira para a prestação de serviços de protecção social (AFP); segundo, analiso as relações de consumo e endividamento das famílias populares; e terceiro, exploro as virtudes da "eficiência" e da "transversalidade" que, como resultado das retiradas, são atribuídas à infra-estrutura financeira e aos novos circuitos de captação de valor que esta retirada construiu.